quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Me ensinaram a nos odiar - mas eu não aprendi

Uma busca rápida sobre indústria da beleza e filmes sobre adolescentes me faz ver o quanto a sociedade gasta seu tempo ensinando meninas a odiarem não só seus corpos, mas também os corpos e almas de outrem. Porque meu cabelo tem que ser o mais bonito, meu salto o mais alto, meu sorriso o mais largo, meu cargo o melhor, minha cintura a mais fina, meus dedos os mais rápidos, e por aí a lista se mantém funda e desnecessária. "Eu odeio tudo em mim e, como consequência, odeio tudo em você também" é o ensinamento mesquinho que me foi ensinado. Talvez - provavelmente - com palavras mais bonitas, mas não muda a ideia de ódio gratuito. 

Sorte que eu não aprendi.

Sorte a minha, ou talvez nem tanto, que vejo corpos apenas como corpos, com sua individualidade e respeitando a diversidade que, de fato, existe, e que sempre existiu. Ou talvez fosse sorte se o feitiço não fosse voltado para todas as mulheres, independente da idade e do numero de suas coxas, e, consequentemente, se voltasse contra mim. Ver mulheres e meninas como pessoas não faz outras mulheres e meninas também me verem como pessoa. Será mesmo que o universo devolve tudo aquilo que você ecoa ou o barulho social sempre soa mais alto?

Esse amor todo que eu sinto pelas pessoas deveria ser libertador, mas não é. Essa ideia de ser cuidadoso com o que emite para receber o que merece é só mais uma ideia de que se formos bons, a recompensa vem. Sinceramente, não sei o que aconteceu com as pessoas para só serem boas quando envolve uma recompensa, mas não me parece justo alguém que está em processo de aprendizado emocional ser massacrado por pensamentos mesquinhos de caçadores de biscoitos. 

As pessoas deveriam respeitar porque é bom. Amar porque sim. Ser decente não deveria ser algo digno de aplausos. A gente adoece porque sente de mais, enquanto pessoas que sentem de menos falam de mais. O barulho social, apesar do barulho de dentro, suga a melhor parte de nós, enquanto os que sobrevivem se unem para não serem extintos.

Tem muita gente falando de mais e amando de menos. Se preocupando de menos, sendo humano de menos. Talvez essa seja aquela hora onde surge uma mágica louca e todo mundo coloca a mão na consciência e percebe o quanto de pessoas elas machucam "sem querer".

Claro.

"Sem querer".


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