quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Ser eu. De novo [+18]

Madrugada, música baixa e temperatura externa acima do meu gosto pessoal. Como sempre, me irrito com o excesso de roupas e diminuo o número tirando tudo que esconde pernas quando, fingindo surpresa, sua mão desenha minha cintura. Sua boca aproxima do meu ouvido e você solta, em um sussurro:

- Você é muito gostosa

Minha mente leonina grita um inaudível "eu já sabia" enquanto um sorriso leve e livre aparece, me fazendo lembrar de quem eu sempre fui.

Você sorri na minha orelha, usando aprendizados de Cazuza, enquanto sinto o coração se perder em batimentos. As mãos suam, os músculos enrijecem, a boca abre, a blusa some. Sua respiração inconstante encontra meu pescoço quando sua mão prende as minhas do lado das minhas orelhas e, como se nada tivesse acontecido, eu sou eu de novo. Os sorrisos, os sons, os gemidos, as caras, as bocas, os orgasmos.

Sou eu de novo.

O mundo, de novo, para. Mal sinto as pernas, as costas, as marcas.

- Nossa...

Silêncio.

Risos.

- Por que você tá rindo?

Ele não sabe como é a sensação de que isso não ia mais acontecer. Ele não sabe como a cabeça já me fez de refém e me tirou a única coisa que me conectava com o meu corpo e com ele ao mesmo tempo. Ele não faz ideia de como é não ter fé em outras transas, outros dias, sem precisar de um preparo emocional para conseguir me entregar sem medo de perder o controle. Ele não entende que uma mulher gozando é revolucionário, mas que alguém que tem sido feita de refém de si mesmo, quando goza, é libertador.

Sorrio de novo e, dessa vez, sinto ele sorri também.

Ele beija meu pescoço, desencaixa dos meus braços, encontra clavícula, peito, tórax, barriga. Os dedos passeiam na parte externa das minhas coxas enquanto eu sinto seu corpo descendo. Desce quadril, tronco, cabeça. Os beijos recomeçam de onde pararam. Eu fecho os olhos, sorrio por dentro e deito mais acima da cama. Virilha. Seguro a cabeceira, solto meu cabelo e seguro no seu.

Risos. Não altos, não externos, não muito claros.

Me sinto eu mesma. Minhas mãos no seu cabelo; suas mãos no meu corpo; sua língua, como sempre, inacreditavelmente quente, ciente, presente.

No fim, nós. A pequena morte latente nos nossos corpos me deixa cada vez mais claro que eu sou, nada menos, que eu mesma.

De volta.

De novo.

*



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