quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Amizade é tirar o sobrenome

- Hey, passa seu número!
- Opa! Passo sim, anota aí!
"Fulanx Souza" ou "Fulanx Faculdade" ou "Fulanx Guitarra". Nome e sobrenome. Algo identificável para nós, meros mortais que mal nos conhecemos. Mas se eu peguei o número é porque a ideia é a gente ir se falando. Sobre faculdade, sobre guitarra, sobre qualquer coisa tosca e impessoal. Amizade não é isso.

Você sente que ultrapassou a linha do sobrenome quando não existe mais a educação exagerada ("Você poderia, por favor, me emprestar o seu caderno?"), ou quando você não precisa se justificar ("É que eu faltei ontem..."). Ultrapassar a linha do sobrenome é alguém te mandar uma foto sem porque e sem pra que. Elx só quer que você veja a foto e seja honestx. Elx só quer alguém que diga "Cara, tá bacana. Manda bala!" ou "Nem pensa nisso... Parece que tu saiu de uma garrafa!E olha esse cabelo!!!".

Você sente que pode tirar o sobrenome quando a liberdade é mútua. Quando a preocupação vem disfarçada de "chegou bem?" e "Vai hoje?" vira um acordo. O tão famoso "Se você não for, eu também não vou". Convenhamos, encarar aula morta sozinha não rola. E não rola mesmo. Todo mundo já mandou um "vai hoje?" pelo menos uma vez na semana. Ninguém é de ferro.

Você sente o sobrenome caindo quando ler "Fulanx de Tal" nas suas notificações te incomoda. E incomoda mesmo. Aliás, me incomoda. A pessoa deixou de ser só um nome com sobrenome na minha agenda e virou alguém. Uma voz, um sorriso, um cheiro, uma risada, uma sensação de bom dia, ou de dia bom. É você brilhar por dentro, gostar do que vê, se preocupar, se procurar, se assumir. Ser honestx, sabe. Contigo e com os outros. É se renovar.

Eu acredito que a renovação é inevitável. Assumir isso para si mesmx é a maior briga de todos os tempos. Ninguém nunca quer se expor de novo e correr o risco de cair. De novo. De se machucar de novo. De se perder de novo. O medo virou aliado e nosso melhor amigo mas, como qualquer outra coisa, ele também erra. Me vejo em uma situação que alguns sobrenomes me incomodam, sim, mas esse medo...Precisamos entrar em um acordo.


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