Eu arrumo as almofadas enquanto você se joga na minha
cama bagunçada:
- Deita comigo, vai. - Um daqueles pedidos que a gente
não nega.
Você abre os braços e me dá um sorriso. Admito que vejo
esse sorriso há anos e ele mexe com as minhas pernas mesmo assim.
- Deito, vai.
Eu me jogo, você me abraça e meu rosto encaixa no seu
pescoço. Sim, encaixa. Como se tivesse sido moldado, como se fosse o formato
certo, como se eu só tivesse esperando você para poder me encaixar no pescoço
de alguém. Depois de poucos, mas muito poucos segundos, ouço seu coração bater.
Forte.
Firme.
Não muito rápido. Levando em conta minha
afinidade com metrônomos, não passou de 70 bpm.
- Você não faz ideia de como é bom ouvir seu coração
bater.
Porque, realmente, você não faz ideia. Quase ninguém faz.
Para mim, não existe sensação pior do que perder o que já
teve, e cada batida do seu coração me prova que sobreviver a tudo isso foi mais
do que uma lição, mais do que um aprendizado, mais do que uma forma de crescer.
Foi uma forma de mostrar que você merece ter alguém para a vida toda – e eu
também.
Foi uma forma de ver que eu não fico menos forte só por
ter alguém aqui comigo; que nada me trás mais paz do que saber que eu me
permito amar você com todas as minhas forças. Para mim, não existe essa
história de não se apegar, já que a tranquilidade de ter alguém vale muito, mas
muito mais do que a vontade de lutar sozinha contra o mundo.
E eu me permito ter alguém.
Seu abraço me envolve enquanto seu cheiro me invade. O
aperto no peito que veio junto com as lembranças vai embora assim que sua boca
encontra meu rosto. Eu sorrio. Você sorri.
- Você não faz ideia de como é bom ouvir seu coração
bater.
*
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