quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Eu ando sendo o que sobrou

Parece que tem um hipopótamo sentado na minha cabeça, mas eu continuo aqui, com perninha de índio, polegares e indicadores se tocando, observando o pensamento - que está uma bagunça, por sinal. Minha sala de aula mental está pior, a ponto de ficar jogando todas as minhas falhas no ventilador, enquanto roda um vídeo dos fracassos pequenos e diários dos últimos meses. Mudar é difícil e o mundo todo sabe disso, mas não era para ser assim, dessa forma, com esse peso, com essas outras pessoas rindo por eu ter escolhido caminhos - literalmente - alternativos, sabe. O que me fez pensar o motivo de ter escolhido caminhos literalmente alternativos.

Sim, a sala de aula tava uma loucura.

Eu cheguei em um dia e me vi no chão, emocionalmente falando. Me senti na chuva, sem roupa, sozinha. Eu não sabia mais quem eu era e, hoje, moldando as coisas e percebendo que a dona da minha vida sou eu mesma, eu consigo ver que eu sou aquilo que sobrou. Tanto uns meses atrás quanto hoje, tentando não fugir, eu percebi que sou exatamente aquilo que sobrou. A essência, ou chame o nome que quiser, é aquilo que me fez ver que por mais que a vida esteja uma bagunça, eu mereço vivê-la de uma forma que o foco não seja mais as coisas ruins.

Observar e não se envolver.

Com nada, talvez. Com as energias negativas que vomitam na gente, com as opiniões que arremessam quando a gente não pede, com o clima que criam sem motivo, com a fala desnecessariamente estúpida. Ah, com o pensamento. Não se envolver com o pensamento. Mas com nenhum pensamento? Talvez eu não seja tão madura assim, talvez não seja hora de mudar, talvez o problema seja eu mesma no final das contas.

E continuo me envolvendo.

Só que não quero mais me envolver. Nem com as energias, nem com as opiniões, nem com o clima, nem com a fala negativa e, muito menos, com o pensamento. Ele atravessa cada tentativa de foco que eu crio, porém eu simplesmente não posso deixar. Já permiti muito e teve um estrago absurdo que me levou muito tempo para entender que eu estava na chuva, sozinha e nua. Levou muito tempo para eu poder perceber quem realmente ficou e o estrago que sobrou por aqueles que foram embora.

Eu ando sendo o que sobrou.

Na chuva, sozinha e nua. 

Com perninha de índio, polegares e indicadores se tocando, observando e aprendendo a não se envolver.


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