quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não, eu não vou morrer.

Estou sentada, com o notebook no colo, ouvindo um mantra budista. As vezes eu me pergunto se cada opção que eu escolho não tem feito com que eu me transforme em uma budista em andamento. Minhas mãos estão tremendo, as palmas suam, a boca saliva, o estômago revira. Durante todos esses meses de meditação e yoga, eu consegui perceber situações em que a parte física está bem, mas a cabeça diz que não. Situações em que eu sinto exatamente o que eu estou sentindo agora, mas com uma leve diferença: a distração funciona. Me focar em algo sem sentido e aleatório me ajuda a passar o tempo enquanto o remédio começa seu efeito. Eu mereço todos os parabéns possíveis por aceitar que o medo existe, por vê-lo como real - porque ele é real - e, principalmente, por observar o corpo e a forma que eu - não - lido com isso.

Não adianta. Eu não lido.

Eu descobri quando não é real, mas e quando é? 

A primeira coisa que vem na minha cabeça, e não sai mais, é que eu vou morrer. Sabe-se lá como. Não importa se eu estou sentada na cama, com uma roupa confortável, sem nenhum tipo de excesso. Aqui dentro eu vou morrer. Aqui dentro é como se eu tivesse vendo uma bala vindo em direção à minha cabeça, em câmera lenta, enquanto eu estou amarrada em uma cadeira. Então, seguindo essa lógica, eu vou morrer.

O lance é que eu não vou morrer.

(Eu vou, mas não agora.)

Eu não estou presa em uma cadeira, não está vindo uma bala na minha direção, não sou isca de nenhum tipo de animal gigante nem nada do gênero. Logo, eu estou segura. Meu corpo está seguro, meu eu está seguro. Apavorado, mas seguro. Por mais que a minha mente não veja isso agora, as coisas estão bem e a morte não é exatamente um risco. 

Não é um risco mesmo. 

Não sei como deixar claro que estamos bem, não sei como deixar claro que o medo em excesso não ajuda em nada. Não sei como esclarecer que a somatização faz tudo ser muito maior do que realmente é, sabe. Não estou com a corda no pescoço, não estamos perdidas, não iremos morrer agora.

Porque eu me adapto, levanto, sobrevivo. E é a melhor coisa que podemos fazer.


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