quinta-feira, 19 de julho de 2018

Tem uma cicatriz aqui que continua aberta

Hoje eu me lembrei de quando você me disse o quanto eu era engraçada, madura, criativa e toda essa parafernalha que, se eu fosse solteira, eu teria parado na sua cama em questão de segundos. Mas, sinceramente, doeria menos se fosse só isso. Lembro da animação que era saber que alguém foda me achava foda, lembro de como eu me sentia quando você me convencia que o mundo era melhor simplesmente pelo fato de que eu estava nele. Que eu tinha uma visão de mundo que eu deveria mostrar para as pessoas, que minhas histórias mostravam as coisas boas que surgiam de situações ruins, que eu merecia muito mais do que eu tinha até então. Até que, um belo dia, parece que eu deixei de ser toda essa coisa incrível que você tanto pregava.

Hoje, literalmente hoje, eu percebi a cicatriz que isso me trás.

Quando eu me permito poder ser quem eu realmente sou, aparece uma sombra aqui, que não é minha, me lembrando da última pessoa foda que fez eu me sentir melhor simplesmente por fazer o básico. Por ser decente, por assumir humanidade, por tentar melhorar. Sei lá, o básico.

Hoje eu lembrei exatamente do dia que eu, aparentemente, não era mais nada muito nossa. Lembro da culpa que cresceu dentro de mim por achar que eu que deixei de ser alguém incrível. "Incrível" porque, para mim, o nome daquilo é decência. Se você tem a chance de melhorar o dia de alguém, você faz por ser algo decente a se fazer; se você pode estar presente quando alguém precisa, você faz simplesmente por empatia e respeito ao próximo.

Trouxa eu por ter me achado incrível por ter feito o básico.

Por mais que uma parte minha ainda se pegue pensando na forma que eu me sentia com relação a isso, a outra parte me lembra de como foi impossível falar sobre meu bem estar emocional depois, sem ter medo de ser largada no meio de um pedido desesperado de ajuda. 

 Bom, ainda é impossível. Ainda é difícil ter surtos de sinceridade, mudar a abordagem, tentar e tudo mais que vem no pacote. Ainda é complicado entender que as pessoas são diferentes e que tem muita gente legal por aí querendo que eu conte algo sobre mim, que não seja sobre a festa do final de semana. 

Só tenho medo dessa cicatriz aqui, que eu deixei que fizessem, por ter um ego grande demais.

E se eu tivesse a chance de contar algo sobre mim, eu diria que eu odeio grãos.


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