terça-feira, 18 de setembro de 2018

Aquela coisa sincerona que rola de vez em quando

Tenho medo do novo. E não é basicamente medo de alguém ou de alguma coisa específica, como se fosse medo de dar errado ou algo do gênero. Tenho medo que as expectativas sem sentido que eu crio aqui dentro sejam todas mentiras – e provavelmente são mesmo – e não sobre nada de real em meio à toda essa brincadeira de fazer parte da vida de alguém, sabe. Tenho medo do álbum novo, do filme novo, do sorriso novo. Tanto meu quanto do outro.

Tenho medo de assumir que algo está dando certo. Tipo quando você começa a acertar uma receita de bolo que todo mundo diz que é fácil, porém ninguém nunca faz. Eu quero que todo mundo saiba que eu estou acertando o bolo, só que uma parte enorme do meu corpo grita “vai, bolo. Eu sei que você tá doidinho para não crescer e me ver jogando todas as migalhas no lixo enquanto eu me culpo por sentir que perdi meu tempo”.

Falando nisso, tenho medo de ir devagar e perder tempo, mesmo sabendo que ambos são diferentes. Mesmo sabendo que cultivar algo exige não só tempo, mas leveza, carinho, compaixão, respeito, entrega. Parece que eu quero tanto sentir que as coisas estão andando que eu largo o carrinho com os ingredientes para trás, como se fazer qualquer coisa fosse mais importante do que esperar as coisas se ajeitarem com a ajuda do tempo. E, claro, com a minha ajuda também.

Tenho medo que o meu medo de repetir algum erro me cause mais danos do que simplesmente olhar para frente. Como se o futuro fosse sempre repetir o passado, como se eu não fosse uma pessoa diferente, como se o resto do mundo fosse exatamente igual. Sabe aquela sensação de dar soco em ponta de faca? Então. Mas nem tudo é uma faca e nem sempre eu saio socando as coisas por aí.

Tenho medo de falar demais e me tornar alguém inconveniente, intruso, cansativo. Tenho medo que isso se torne comum. Tenho medo de me tornar aquela pessoa pseudo foda que ninguém aguenta mais as rimas ou os planos guardados na gaveta.

Tenho medo de continuar me sentindo essa casa de praia, mesmo eu tendo provas de que não é assim que a banda tem tocado ultimamente. Tenho medo de ser, mas ser demais e acabar assistindo àquele filme sozinha.

Tenho medo de acabar desolada por coisas pequenas e me culpar por isso, como sempre. Tenho medo que acabe, que seja raso, que seja morno, que não seja. Mesmo com tanto medo de não ser nada, tenho mais medo de fugir e transformar isso em um nada que dure para sempre.

Melhor o medo de ser do que a certeza do nada.



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