quinta-feira, 13 de setembro de 2018

E a culpa?

Eu não sei o que é isso. Tem um suor querendo sair pela minha testa enquanto meu estômago faz movimentos que eu não queria estar sentindo. Isso me parece febre, mas não acho que eu esteja delirando. Ou talvez eu esteja delirando, mas parece que não tem como saber. Meu intestino está mexendo, minha cabeça rachando, meu pescoço começando a travar. Do que, exatamente, meu corpo quer nos proteger? Do que ele quer me proteger?

Nos últimos anos eu sinto que tenho me dado cada vez mais direitos que já eram meus, porém nunca me avisaram. Porque, é aquela coisa, se eu quiser, eu posso, contanto que não faça mal a ninguém, só que ninguém nunca me ensinou isso. Não me falaram das coisas que posso, sim, fazer, apenas aquelas que eles não querem que eu faça. Tá, talvez não tenha tanta diferença assim, no fim das contas.

Com o corpo ainda despencando, eu me pergunto o que acontece. Não é de hoje, não é de ontem. Todas as vezes que eu escolho falar, existe uma resistência, uma tentativa do corpo de dizer que aquilo ali não pode ser dito, não pode ser trazido ao mundo. É como se o corpo me dissesse que aquilo ali não pode ser resolvido e apagado dessa memória destorcida que me culpa o tempo todo. E não faz sentido. Do que, exatamente, ele está me protegendo?

Faço uma lista mental de todos os meus relacionamentos, amorosos ou não. Tento lembrar das vezes que fugia dos assuntos ou se isso é figurinha nova no meu álbum e, advinha, não é. As vezes a fuga não é tão clara, mas ela sempre existiu. É como se não existisse a possibilidade de não ter medo, é como se eu tivesse certeza que algum tipo de traição ia acontecer. Porque aconteceu. E eu me culpo.

O fato mais importante é que não deveria existir essa possibilidade de culpa. Não por ser eu, mas por ser alguém que confiou em alguém e recebeu algo tão marcante quanto uma tatuagem no meio da testa, só que muito pior. Não tem cabimento meu corpo me proteger de algo que eu não deveria sentir. Que nós não deveríamos sentir.

Eu não deveria sentir culpa quando alguém resolveu que seria tudo bem invadir o meu espaço. Eu não deveria sentir culpa por não ter tomado nenhum tipo de decisão antes. Não se invade espaços alheios. Não se tatua a testa das pessoas com coisas que as pessoas não deveriam ver ou viver. Não deveria ser permitido a instalação da culpa em pessoas inocentes.

Não deveria.

Esse vômito, apesar da ânsia, não parece ser físico. Primeiro por eu não estar tremendo; segundo pelo aperto no peito. Pela angústia, pelas dores, pelos pedidos de ajuda. Pela vontade de ser mais real e sincera mas não conseguir por sentir uma culpa que não deveria ser minha.

Tem tanta coisa errada que parece que eu não mereço fazer parte do mundo do outro. Tem tanta bagunça rolando que é como se não fosse justo, como se não fosse certo, como se as pessoas merecessem mais do que uma mulher que disfarça as bagunças com papos aleatórios, sabe.

Algumas coisas andam bem confusas aqui dentro.

Mesmo.



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