domingo, 5 de maio de 2019

Sobre identificar-se: eu não lembrava como era

Têm dias que as coisas transbordam mais do que o normal, em vários sentidos. Surge uma necessidade de deixar transparecer que me faz sempre lembrar de que eu ainda sou uma pessoa. Que chora, que cai, que tenta, que precisa de pessoas. Acho horrível admitir que eu não vou a lugar nenhum sozinha, mas não existe verdade maior. 

Ok, talvez exista uma.

Existe um ponto dentro da minha cabeça que me atormenta a ponto de transformar todos os meu méritos em pó, fazendo eu me sentir a pior pessoa que poderia existir no mundo. Todo o meu amor próprio, a minha autonomia, minha saúde mental, minha vida sexual, pessoal e profissional se tornam uma jogatina de cassino, como se eu tivesse colocado uma moeda no caça níquel e comprado as pessoas que escolheram ficar, o emprego que eu amo ter, as coisas que eu adoro fazer.

Já que não me parece racional, sabe. Não parece que eu sou digna de ter o que eu tenho, não sinto que as pessoas me mantem na vida delas por opção, não sinto que eu mereça pessoas que ficam. Eu defendo, com todas as minhas forças, que todas as pessoas merecem sempre o melhor, independente do que isso realmente signifique, menos eu. A teoria do auto perdão é maravilhosa, mas eu não faço ideia do que isso realmente significa ou do que fazer para que isso se torne algo concreto.

Porque, né, é aquela coisa: existe um peso me lembrando o tempo todo aqui dentro que eu simplesmente não sou digna de pessoas que realmente se importam.

Essa é a verdade maior, e no auge da arrogância, eu sempre acho que eu tenho razão.

Porém a vida vem e bate na nossa cara dançando só de calcinha com a nossa música preferida enquanto coloca pessoas que nos trás aquela sensação maravilhosa de gratidão. Porque, às vezes, a gente erra. De vez em quando é preciso colocar a mão na consciência e reeducar toda essa culpa punitiva que se instalou e resolveu ficar. 

Cheguei no ponto de assumir que eu preciso de ajuda para reprogramar isso que eu programei alguns anos atrás e assumir que eu não quero que ninguém vá embora. Que eu agradeço à todos os deuses e deusas do universo por cada foto aleatória, por cada marcação, por cada abraço que me faz relembrar que eu estou viva e que eu mereço uma vida leve e cheias de cheiros que eu estou amando decorar.

Tudo bem amar muito, sentir muito, conquistar muito. Sucesso é e sempre foi relativo, mas buscar soltar essa corda que está despedaçando meus dedos seria o ápice da minha tranquilidade emocional.

Para agora, não sei o que é isso, mas me sinto grata por ter pessoas que seguram minha mão enquanto eu busco em mim mesma aquilo que eu não lembrava mais como era ter.

Que fiquem, que me relembrem, que eu me identifique.


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