quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um corpo nunca é só um corpo

É estranho porque você, quando só tem o seu corpo, vê outro corpo apenas como outro corpo. É alguém que anda também, claro, e fala, e come, e dorme. Mas é outro corpo. Um corpo que tira fotos, que sorri, que cai (literalmente) e levanta logo em seguida. Não tem como evitar... É apenas um corpo.

Até que você beija a boca que ele tem. Você sente que ele também tem língua, igual você. Que dá pra sentir o calor dele através dos lábios, do rosto, das mãos. É engraçado porque é a partir daí que você não vê como apenas um corpo, porque não é mesmo. É um ser humano. Tão quente quanto você.

Brota então uma mão por aí. Em algum lugar. Cintura, talvez. Cintura porque ela dá a opção de subir ou de descer. Esse comentário seria machista se eu não usasse dos mesmo argumentos. Então ele é ótimo. Sensato e criativo, dando leveza pras mãos e pra qualquer coisa e qualquer corpo que quiser.

Eu acho que temos, todos nós, um ego imenso. Ou talvez só eu tenha. Porque eu acho lindo quando vejo seu corpo dormindo, como se só eu dormisse. Ou o cheiro de pós-banho, já que eu não sinto que eu fique cheirosa daquele jeito. Ou quando eu estou bem perto do seu rosto e vejo você em uma intensidade enorme, com um excesso de cheiros e respirações.

Não, não é só um corpo.

E demorei pra ver isso dessa forma. Demorei pra te ver como outro ser humano. A diferença é que eu te vejo dormir, sinto seu cheiro no pós-banho, te vejo acordando, reclamando de fome e de frio. E é lindo, sabe. Não é lindo te ver com frio e com fome, mas é lindo te ver como um corpo além do meu. Uma alma que estende a minha. Que faz eu me sentir normal.

Nunca imaginei que um corpo pudesse me trazer tudo isso. Que seria tão bom me perder assim, por aí, dessa forma. Ou de qualquer forma.

Que seu corpo, e todo o resto, se perca comigo. 


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