segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O que é crescer?

Nessa semana eu vi uma garota que estudou comigo. Nada muito ó, seremos honestos. Ela não me reconheceu e eu demorei para me tocar que eu conhecia aquele rosto de outros tempos. Ela estava de mão dada com um mini humano de uns 5 anos e com um barrigão. Não manjo de tamanho de barrigas, mas chuto uns 7 meses. E eu? Bom... Eu estava de calça saruel vermelha (sim, eu uso saruel vermelha), tênis estilo "botinha", camiseta, fones de ouvido, em cima da bicicleta esperando alguma coisa que não muda nenhum fato agora. Para não dizer que temos a mesma idade, porque não temos, ela é um ano mais velha do que eu. Ou seja, ela nos 24 e eu nos 23.

Ela "super adulta" e eu "super criança".

Claro que não sabemos as circunstâncias que a levou a ter um filho de 5 anos e estar esperando outro. Claro que não muda em nada a minha vida o fato dela ter filho, e não muda mesmo. Mas o que é crescer? É simplesmente juntar seus pares de meias com outros pares de meias? Porque eu me senti tão infantil e atrasada quando eu vi aquela "menina" com a família dela na rua. Eu não deixei de crescer durante esses anos mas também não casei. Não tive filhos, não comprei uma casa nem fiz uma carreira, seja pra onde for. Então, o que seria crescer?

Quando eu tinha uns 17 anos eu achava o cúmulo do ridículo as meninas de 15 que se achavam o máximo por transarem com seus namorados de 20. Claro que a gente não sabe nada da vida dos outros mas elas faziam questão de que todos soubessem. Porque, sinceramente, eu nunca fui uma menina que andava com "galera" e, ainda assim, sabia o histórico sexual de todas. Da pílula que Fulana tomou; do Fulano frustrado porque ela transava com Beutrano e ainda não tinha transado com ele. Sim, é serio, até eu sabia disso. E ficava me perguntando se elas se achavam crescidas por isso. Porque, honestamente, eu nunca me achei gente grande por transar com o namorado.

E o tempo foi passando.

As vezes eu enxergo uma mulher diante dos meus olhos, na frente do espelho, que está escondida dentro de mim, em algum lugar, quando eu ando nas ruas. Mas eu não me vejo mulher quando vejo essas amigas (que eu amo, aliás. Sério, gente) grávidas e casadas. É muito absurdo e sem sentido, mas é real. Me sinto pequena por querer outras coisas e por valorizar outras coisas. 

Uma vez eu li que o auge da vida sexual feminina é aos 30. Em média, claro, mas aos 30. E eu com 23. Aos 30 eu não quero filhos, nem casamento, nem uma barriga com um mini humano que chuta. Eu anseio pelo meu auge sexual, pelo meu talvez futuro livro, por uma carreira marcante e forte, sabe. Por alunos que me vêem como tutora, como uma mãe na parte profissional; anseio por sorrisos sem roupa com a luz acessa. Por orgasmos infinitos, por textos reconhecidos e contatos amigos. Mas filhos? Casamento? Vestido e salto? Não, obrigada.

Claro que isso tudo pode mudar. Eu posso engravidar amanhã e desistir do meu livro. Posso escolher ficar em casa ao invés de dar aulas. Bordar ao invés de tocar. Tudo pode mudar, e isso é bem óbvio. Mas eu ainda não me vejo grande. E talvez isso tem a ver comigo. E só comigo.

Sempre vi o crescimento como algo totalmente pessoal. E não tenho visto isso em mim. Eu escrevo cada vez mais, eu toco cada vez mais, tenho noites melhores e cada vez mais longas, mas não me sinto grande. E talvez nunca me sinta. Talvez, se eu engravidasse, eu me sentiria uma criança mãe de outra criança. Talvez se eu tiver um aluno que me veja como tutora, eu negue com todas as forças, em todas as línguas, de todas as formas, porque talvez eu não me veja assim. Talvez eu cresça mas nunca note, sabe. Porque eu não tenho esse olhar externo sobre mim mesma.

A única coisa que eu vejo em mim é essa mulher escondida por trás de uma olhar de criança. De uma calça larga, de um tênis de bota, de músicas velhas, de unhas roídas (sim, eu roí tudo mesmo). E talvez eu só seja assim mesmo, simplesmente assim. As meninas de 15 eram crianças vestidas de mulher. Eu me vejo uma mulher vestida, e com alma, de criança.

Se a vida (e o sexo) não tirou isso de mim, acredito que nada mais tira.


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