segunda-feira, 30 de maio de 2016

Quando tudo faltar, que sobre amor

Para qualquer humano que valha alguma coisa, essa semana foi bem chocante e da pior forma possível. Não só pelo fato em si, mas pelo reflexo da repercussão que o caso teve, jogando na nossa cara todos os "homens de bem" argumentando o ocorrido. Não existe argumento que justifique aquele ato premeditado e muito, mas muito [coloque a pior palavra que você conheça aqui]. 

Isso me fez pensar sobre todos esses anos em que a igreja dominou a terra (não estou falando de religião e fé, estou falando de empresa. De fábrica de fiéis, de vender bíblias e pregações, seja ela qual for. De homens dizendo e "guiando" mulheres para suas melhores opções, segundo a igreja.). Quando você é pequeno, você ouve o moço de vestido falar sobre ser uma pessoa de bem e espalhar o amor; sobre ajudar o próximo; sobre agradecer todos os dias antes de dormir e agradecer todas as manhãs, ao acordar; sobre pedir proteção para a família, para os amigos, para as crianças necessitadas e moradores de rua. E isso tudo é lindo quando feito com fé. Portanto, novamente, não é a fé que me trouxe até aqui, mas a empresa.

Eu vejo a igreja como uma formadora de opinião, igual quando algum famoso fala algo na TV e todos os fãs abaixam a cabeça, virando lei. Mas, no caso da igreja, a maioria dos fãs pegam aquilo que melhor se encaixa na vida e vida que segue. O amor fica no banco de reservas, sabe. A maioria das pessoas não pegam esse amor tão falado e leva ele para casa porque dá trabalho. Dá trabalho você respeitar a sua mulher quando ela te irrita, quando seu filho de irrita, quando seu chefe te irrita; então a gente deixa o amor na faixada de casa, escrito no tapete. Qualquer coisa como "aqui tem muito amor" ou qualquer balela que faça com que seus parentes e amigos acreditem que você tem uma família feliz. Porque, claro, você é um homem de bem, que frequenta a igreja e doa o dízimo todo mês. Trabalha duro, coloca comida na mesa, abomina homossexual-ismo e exige que sua filha case virgem para virar uma dona de casa honrada. 

Onde eu entro nisso? Bom. Cheguei onde eu queria chegar.

Esses seguidores buscam o céu, não fazer o bem. Sim, são coisas diferentes, e meu eu interior entra em desespero por saber que são coisas diferentes. Entro em desespero porque eu tenho medo, eu acho injusto. Acho injusto falarem que eu não tenho amor no coração porque eu não sigo a bíblia, porque eu não abomino nada nem ninguém. Acho injusto esses caras que julgaram e argumentaram tanto sobre esse estupro coletivo se considerarem homens de bem porque trabalham, enquanto eles não prestam nem para respeitar as pessoas que dividem o teto com ele.

A minha posição política vira abominável simplesmente por não ir na missa, por transar com o namorado e por achar o cúmulo do absurdo um ser humano servir ao outro simplesmente por ter nascido fisicamente diferente. E o argumento vira "ah, mas na bíblia...". Colega, na bíblia diz que não pode fazer a barba nem comer bacon, mas sua barriga e sua cara não estão seguindo o roteiro e eu não tô enchendo o seu saco falando que você é uma criatura que não tem amor no coração.

Acho injusto eu virar alvo, indireto, de discurso de ódio. Acho injusto imaginar um céu, que era para ser um lugar tão bom, segundo o amor espalhado na bíblia, cheio de "homens de bem" buscando argumentos para justificar absurdos. Sério. Acho injusto.

Em meio a tanto caos, existem pessoas que ajudam, que se importam, que lutam. Se realmente existe um Deus tão bom e tão cheio de amor quanto mostra o livro mais vendido do mundo, ele deveria aparecer por aqui e fazer uma leitura, porque parece que a maioria não entendeu muito bem sua ambiguidade textual. 


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