sexta-feira, 27 de maio de 2016

Sim, vamos falar de cultura.

Sim, cultura do estupro. E não seja babaca de falar "ah, mas não existe essa cultura" porque, sim, existe. Quando você, pseudo-macho, tiver medo de andar na rua sozinho a noite por medo de ser estuprado e morto, a gente conversa; quando você não se sentir confortável andando sem camisa por ficar ouvindo "nossa, que delícia" na rua, a gente conversa. Porque enquanto você ainda vier com esse discurso de merda de "nem todo homem estupra", significa que você não só faz parte dos 30, mas também justifica atrocidade com tamanho de roupa e cor de batom. 

Cultura do estupro é você achar normal ouvir seu pai/tio/avô dizendo: "Já comeu alguém, né, garanhão", com todo orgulho do mundo, quando você tem 12 anos. Cultura do estupro é você ver aquele seu amigo super cool, mais velho, descolado e pegador batizar bebida de mulher em balada pra poder levar ela pra casa. Cultura do estupro é você crescer achando que a namorada é OBRIGADA a transar com você porque ela é sua namorada (?). E não pararemos por aí!

Cultura do estupro é essa indústria pornográfica que faz você crescer achando que mulher GOSTA MUITO de tudo e em qualquer posição, que ela é toda sua e você tem todo direito sobre ela. É você fazer algo que a machuca só porque é bom pra você. É você berrar "GOSTOSA" para uma criança. Ou você vai negar que todos os fatos que eu expus até agora não são cultural?

Agora me diga, pseudo-"mas nem todo homem é estuprador": Quantas revistas pornográficas você tinha com 12 anos? Quantas meninas você já viu sendo dopadas? Quantas vezes você manteve uma posição dolorida para sua namorada/ficante, só porque era bom -só!- para você? Quando vezes a mina disse não e você insistiu? Quantas vezes você não sentiu a lubrificação dela e AINDA continuou? Quantas vezes você roçou em uma garota no transporte público? 

Todos os dias eu agradeço por namorar uma exceção. Um que não dividia revista de mulher pelada com os amigos, que não vê graça em pornografia. Que, mesmo depois de anos de namoro, negou sexo comigo porque eu estava bêbada. Que sabe a hora de parar, de continuar, de mudar. E me machuca saber que ele é exceção. Me machuca saber que, no meio dessa cultura, ele virou a ovelha negra. Me machuca porque a cultura continua aí e, pelo jeito, a porcentagem de falha dela é muito, mas muito baixa. 

Negar a cultura não faz com que ela não exista, só mostra que você está tão, mas tão imerso nela que nem a vê mais. Mas nós, mulheres, vemos e sentimos todos os dias. 

Não são só 30. E qualquer uma pode ser a Beatriz de amanhã. Inclusive eu.



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