sábado, 9 de julho de 2016

"Sex is not the enemy" [18]

Nos esconderam a verdade o tempo todo dizendo que o pecado maior estava na parte animal que queria, mais do que tudo, gozar no final. Porque é irracional, porque é prazeroso, porque é errado, porque não pode. "Irracional", "prazeroso" e "errado" são absurdamente relativos, mas isso também ninguém diz. A interpretação é tão relativa quanto as pessoas preferirem tapioca com requeijão ou com manteiga. Bom, eu nem gosto de tapioca.

Cresci com essa ideia - imposta - de que sexo não pode ser bom porque o foco é perpetuar a espécie, então, seguindo essa lógica, sexo só depois do casamento e tem que ser bom para ele. Porque, né, mulher não se fecunda sozinha - ainda bem. Aí a adolescência vem chegando, o beijo de língua pede mais, a mão sente uma necessidade estranha de zanzar pelo corpo, a respiração ofega e as pupilas dilatam. Uma voz que sempre foi ignorada começa a falar mais alto, brigando com aquela criada pelo senso comum, pela sociedade machista que adora difamar mulheres que fazem o que querem e, quando você tem 18 e não sabe nada sobre formação social, a confusão está formada. Porque é difícil assumir para si mesma que você vai dar a cara a tapa, mandando para o peito o gosto por aquele pecado mortal e irracional enquanto toda a sua criação te ensina a ser uma mocinha que senta de pernas fechadas no sofá da própria casa, porque "moça de família senta assim."

O sexo, ou o gosto por sexo, é insanamente associada com educação e formação pessoal. Ninguém nunca me disse que eu posso, sim, ser quem eu quiser com o cara que eu quiser e ainda ser uma boa pessoa, com uma alma bacana, que respeita as pessoas que comem tapioca. Porque ou você é essa pessoa bacana ou você é tarada. 8 ou 80. Preto ou branco. Ou você presta ou não presta. "Simples" assim. Mas, não. Não é isso. Não somos monstros, e, principalmente, sexo não é nosso inimigo.

Eu respeito o fato de que isso tudo veio de berço, e não só do nosso berço, mas não somos obrigadas a carregar fardos que não são nossos. Eu respeito o fato de que a associação de bom coração com virgindade é mais velha do que eu consigo contar mas não precisamos nos forçar a ser alguém que não somos só pelo peso social. Não estou dizendo que é fácil, porque não é. E não é mesmo! É incontável a vergonha de comprar uma camisinha na farmácia por medo de estar sendo xingada de "puta" dentro da cabeça da moça do caixa, assim como os primeiros textos censurados por nós mesmos, por aquela voz criada pela formação social. Ou aquele primeiro orgasmo que, nossa, eu não sei você, mas eu não conseguia me olhar no espelho por vergonha e, principalmente, culpa. E ninguém, além de mim, ficou sabendo disso.

Não precisamos disso. Não precisamos nos enquadrar, nos podar, nos esconder. Porque a liberdade vem de dentro e está para existir algo capaz de tirá-la de nós.


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