quarta-feira, 14 de setembro de 2016

"Bom, só com você"

Aquele seu cheiro dominante já tinha tomado conta do meu quarto e era preciso rir baixo porque, segundo o relógio, o hoje já havia chegado. Eu olhava o teto e seu olho pesava de sono, mas você não queria ir. Bom, eu também não queria que você fosse. 

- Imagina quando ele descobrir que você fala palavrão.
- Mas eu só falo palavrão com você

A primeira coisa que veio na minha cabeça foi "que?". Arregalo os olhos, entorto a cabeça para o lado e te encaro:

- Como assim só fala palavrão comigo?
- Sei lá, só falo com você.

Primeiramente, #foratemer eu percebo o quanto a minha influência te trás um vocabulário pobre e cheio de palavras ditas como "não femininas". Em segundo, menino Aécio eu me convenço que eu tenho, sim, um vocabulário decente, que tem muito mais do que siglas imagináveis e palavras que rimam com baralho.

- Você tá me zuando, né. - Ela ri - Você sabe que eu tenho um vocabulário decente, né. 
- Claro que sei. Mas ter a liberdade de falar palavrão eu só tenho com você.

No fim, não tem a ver com vocabulário. Não tem a ver com má influência, com falta de educação, sabe. Tem a ver com liberdade. Tem a ver com se sentir a vontade para dizer o que quiser, na hora que vier na cabeça. Tem a ver com confiança, com se permitir.

Voltei a encarar o teto, sorrindo. Mesmo com os meus olhos no teto, eu a senti sorrindo também.

- Viu. Eu disse para você que existem outras formas de se acalmar, além de tomar banho e dormir.

Viro a cabeça de novo, dou um riso arrogante e jogo a isca:
- Não, você não precisava se acalmar. Você precisava de mim. É diferente.

Sorrio, ergo as sobrancelhas, volto para o teto e espero.

- Meu, vai se foder.

Sim, ganhei o dia.



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