domingo, 11 de setembro de 2016

O susto da reciprocidade

Você se acostuma a sobreviver. Arrumar a cama, guardar os tênis, juntar as meias, varrer a casa. Estudar, ler, se alimentar, se hidratar, procurar emprego, produzir, melhorar, crescer. Se importar sempre na medida, andar sempre na medida e viver sempre na mesma medida. Não sabemos mais arriscar alguma coisa, e, quando arriscamos, já levamos o não para casa, como resposta definitiva. Mas e quando o sim aparece?

Bom, salvemos as meias! Os tênis, a cama, a casa. O subconsciente não lembra mais da sensação e fugir parece totalmente sensato e racional. Mas é tão bom sentir essa reciprocidade batendo na porta que a vontade de ficar é tão grande quanto o medo de ficar. Aí temos que escolher, sabe. Porque ou a gente tenta, se arrisca e corre o risco de se apaixonar - de novo - ou a gente volta para a parte segura, que não tem nada além de camas arrumadas e séries até o fim da noite. Ou a gente deita com a certeza de uma solidão companheira ou puxamos ela para dançar, correndo o risco de perdê-la. Nossa, que risco hein. Eu, correndo o risco de perder a solidão na pista de dança emocional. Um riso de satisfação invade o meu peito nesse momento.

Sinceramente, e novamente, acho que convém tentar. Apesar de todas as lacunas totalmente em processo de preenchimento depois das catástrofes internas, a reciprocidade realmente me assusta. Mas era para ser simples, sabe. Não era para ser nada além do justo, mas é. É insano, é forte, é estranhamente muito grande. Incrível, maravilhoso e renovador. Se permitir, de novo, é renovador. Encher a sua vida de motivos e deixar-se sonhar com coisas grandes é uma parte necessária para continuar acordando todas as manhãs com metas e focos, assim como uma criança que fica ansiosa para dormir porque no dia seguinte ela quer andar de bicicleta. 

Eu sou, nesse momento, a criança com a bicicleta nova, que não vê a hora de acordar, colocar um capacete colorido, um shorts velho e encarar a rua vazia que o amanhã me trás. 

E é tudo muito novo ainda. Tudo. Tudo com uma dimensão de se perder de vista, com uma sensação de euforia que me domina por horas, com um coração que acelera e não me trás desespero nenhum, porque não existe ameaça. Não existe medo, não existe tempo perdido, não existe motivo. Só é bom. E muito bom.

"And I'm feeling good"


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