quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Só. E Nós.

Sozinha no sofá, script decorado de um filme já visto mais vezes do que times brasileiros campeões de mundiais interclubes.

"- Elas estão no penhasco!"

Parece que ouço sua voz dizendo "essa menininha é cabulosa" quando Lilly sorri com satisfação para a Mama voadora à sua frente, enquanto Annabel - ah, Annabel! - dispara com Lucas para o penhasco na tentativa de salvar as irmãs fofas do perigo super eminente. Você não está aqui, mas minha mente não aceita e seus comentários invadem meu filme decorado e já visto 57 vezes. 

Sua cabeça está encostada entre as minhas pernas, com um travesseiro grande e macio no meio, enquanto eu desmancho seu cabelo grudado de gel. Sua mão se perde nas minhas pernas simplesmente por prazer de se perder na minha panturrilha fina e na minha tornozeleira velha e desbotada, enquanto Annabel - ah, Annabel! - entrega os restos do filho de Edith, que desmonta de chorar. É nessa hora que você diz "Que dó, cara...", e aperta minha perna como se não quisesse perder a tornozeleira velha e desbotada.

Mentira. 

Como se não quisesse, ou tivesse medo de perder a dona dos joelhos que te ajudam a se encaixar no sofá.

Isso não foi hoje. Não fisicamente. Mas a minha mente fez com que você estivesse aqui, durante o filme todo, comentando sobre a estranheza de crianças que comem mariposas e brincam com caixas de papelão. Para a minha mente, você estava aqui. Talvez você já esteja aqui dentro da minha cabeça e distância nenhuma tira você de mim. Me vejo em um ponto onde não estou mais sozinha, esteja onde eu estiver. 

"- Victória, vem.
- Victória fica."

Então você se contorce por me ouvir dizendo as mesmas falas finais das irmãs fofas, e conclui: "essa menininha é cabulosa". Eu sorrio, reviro os olhos, te chamo de bobo e me lembro que estou fisicamente sozinha no sofá.



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