segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Sarau: Check!

Essa caixa que a gente se enfia e se lacra é uma coisa muito louca. Primeiro rola toda essa lavagem disfarçada de "é o melhor para você" que todo mundo sempre cresceu ouvindo; depois, com uma leve reflexão e um ciclo decente de pessoas, a gente percebe que "o melhor" não é bem o melhor, é só aquilo que eles conhecem, que não quer dizer muita coisa, seremos realistas. Aí, se a sua curiosidade for maior do que o seu medo (meu caso ontem), você coloca a cabeça para fora da sua caixa - que agora já não está tão lacrada - e se permite uma história nova, com pessoas desconhecidas e umas rimas que você fica "olôco". 

(Algumas coisas ainda estão pairando sobre minha cabeça. Em vários casos o medo continua aqui.)

"Quando foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?".

Bom... Ontem.

Estrada absurdamente lenta e aquela sensação de que o domingo seria o mesmo de muitos outros que já tive no ano acabou invadindo a parte feliz do meu corpo (admito que a "parte feliz" não é muito grande, então é relativamente fácil essa "parte feliz" se transformar em "parte frustrada"). Caminho alternativo se tornou o melhor caminho, até por não ter outro, e seguiu-se o caminho. Ruas, lugares, voz do Google, carros, caminhões, motos, espaço, rap. Chegamos.

Eu sempre botei fé nessa coisa de que a primeira impressão é a que fica, só por fé mesmo, porque não sei se existe pesquisa ou algo do gênero, mas a primeira impressão que eu tive foi: liberdade. E assim foi. E assim fizeram.

A maioria dos lugares que eu frequento, pelo menos no começo, me trás aquela sensação de "o que eu estou fazendo aqui?", mas, apesar de não ter passado nem 10% de toda aquela militância disfarçada de rima, a inclusão é evidente, e a sensação de ser uma carta fora do baralho nem chegou perto, o que é bem estranho, levando em conta todo o meu histórico de vida. 

Representatividade, feminismo, verdade, reflexão. 

Militância. 

Militância de quem apanhou muito para poder rimar no final de semana, sabe. De quem passou por coisas que eu - branca de classe média, que nunca levou uma revista de PM, que nunca foi considerada mulher só para levar para a cama, que sempre se relacionou com homens e que nunca foi questionada por entrar em uma festa usando uma caneta - não vivi. Não vivo. Não sei. Rimas que batem na cara, na minha cara. Não por fazer parte do opressor, mas por me encaixar em um grupo histórico estúpido que não considera todos esses anos de humilhação como opressão. Militância que deveria ser mais vista, mais divulgada, mais frequentada e, principalmente, mais valorizada. 

É uma delícia ver todos esses esteriótipos se deteriorando, mas mais delícia ainda é ver o futuro vindo sem a crença de que o esteriótipo é real. 

A noite caiu, as rimas acabaram e eu voltei para casa. Leve, tranquila e confusa. Leve por ter tentado; tranquila por ter visto um futuro melhor naquelas crianças de 1,20 de altura e confusa por ter dado tudo muito certo. 

Talvez eu não saiba lidar com coisas que dão certo. 
Talvez eu deva ir de novo.



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