quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Tá, mas e a parte boa?

- Quero comer isso. Vamos?

Queria ir, apesar de não estar com fome. Fui.

- Não quero comer mas eu vou com você porque eu sou legal.

Não sou tão legal, mas falar que a companhia me agrada pareceu um tanto quanto assustador.

Coloco o tênis, chacoalho o cabelo, esfrego a cara. Uma parte minha grita, indignada, perguntando com todas as interrogações possíveis se eu sabia o que eu estava fazendo. Obviamente eu sabia mas, ao mesmo tempo, eu não fazia ideia. Quando as primeiras coisas fugiram das expectativas astronômicas que a gente cria - que eu criei, no caso -, tudo que vem a seguir parece que nos testa, principalmente quando o assunto é reciprocidade, palavra essa que eu não acredito mais assim, como antes.

Conversa fiada vai, assunto aleatório vem e em várias situações eu me perdi. Se fosse a primeira vez eu acharia lindo, mas não foi a primeira vez. Se eu tivesse fé em mim mesma e levasse a leveza como estilo de vida, esse texto poderia ser um pouco mais otimista, mas também não é, porque esse exemplo vago de reciprocidade que me deram me fez confiar em árvores ao invés de confiar nas asas que tenho nas costas. Talvez não seja culpa de ninguém, talvez precisamos aprender com aquilo que a vida nos dá, talvez eu estava acostumada a aceitar qualquer tipo de qualquer coisa que as pessoas estavam dispostas a me dar.

Os meus excessos não são, e nunca foram, novidade por aqui, mas talvez eu esteja pecando por outro tão ruim quanto os outros: o excesso de cautela.

As vezes eu me sinto uma criança no mercado. Tudo bem se você não tiver grana para me dar uma caixa de chocolates e um iogurte de um litro, porque nem todo mundo consegue dar presentes mesmo; só não me prometa algo que eu não tenho para depois desaparecer. Acho que eu, definitivamente, sou uma criança no mercado, já que hoje, quando alguém me oferece um doce incrível já estando com ele nas mãos, eu sempre digo "Não, obrigada".

A parte ruim? Bom, talvez eu esteja perdendo uns doces maneiros e deixando de conhecer algumas histórias que vão além de metáforas sobre crianças no mercado. Eu posso estar me enganando dizendo que isso é auto-proteção, enquanto eu quero muito, mais do que muitas coisas, voltar a acreditar na possibilidade que eu só não encontrei pessoas que levam reciprocidade super a sério. 

A parte boa? É.

Não sei se tem.

Só sei que, mesmo que eu não fale, talvez você já saiba que eu adoro sua companhia, e eu provavelmente fuja por, pelo menos, mais seis meses. 

Ou não. 

Quem sabe.



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