terça-feira, 11 de setembro de 2018

Sinto que sinto cada vez menos

O chá esfria enquanto uma voz gostosa invade meus fones. Aquele show antigo, aconchegante, meu. Sabe aquele porto seguro que você guarda a sete chaves por medo de perder todo o resto amanhã? Então. É esse. Sinceramente, não sei se eu quero passar mais tempo da minha vida escondendo minha melhor safra de shows voz e violão, mas eu sinto, aqui dentro, que quanto mais eu sinto, menos eu estou disposta a sentir. Não faz sentido, no fim das contas. Não faz sentido você querer vazar e não estar disposta a isso.

Reli alguns textos mais antigos e me dei conta da inocência que eu perdi. "Amadurecer" não seria bem a palavra, já que eu não melhorei na maioria dos aspectos, eu só aprendi a disfarçar melhor todas as minhas vontades de ser mais do que aquilo tudo. Ou apenas isso. Aquela crença na ideia fofa de que as coisas vão durar muito se foi junto com a maioria das minhas sensações de segurança conforme os anos foram se passando. Não sei muito bem dizer o que eu sinto sobre isso, porém sinto que sinto menos. 

Porque, né, a tendência é dar merda. Eu estou tão acostumada com as pessoas furando que quando alguém não fura, eu fico pensando que vai furar, sim. Que quando eu sentir que eu não vou sobreviver à isso e pedir ajuda, vão furar mesmo e eu vou voltar a ser o que sobrou no chão do meu quarto.

Eu não sei mais sentir que eu posso. Eu não sei mais pensar que eu não preciso ter pressa, que algumas coisas só se encaixam e pronto, sabe. Eu não sei mais contar sobre qualquer coisa, eu não sei mais me permitir tentar, não sei mais como ser leve. Enquanto isso, uma parte aqui que sente tudo fica um caos por perceber que todo o resto sente menos.

Eu não quero sentir menos, eu não mereço sentir menos, eu não preciso sentir menos.

Parece que o medo é tão grande que todo o resto fica pequeno. Parece que todo o resto vira nada, como se tudo bem não tentar, como se tudo bem abraçar meu show favorito e escondê-lo para sempre dentro do meu peito.

Não acho que esteja tudo bem. Não acho que seja justo transformar esse todo em menos. Acho que vale mais transformar esse monte de medo em outros montes, talvez menores, para que eu consiga lidar com um monte pequeno de cada vez.

Talvez seja uma forma de ver que eu não sinto menos, porém não falo mais. Talvez seja hora de mostrar algumas relíquias leves e folks que estão vivendo aqui dentro.


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