sábado, 1 de setembro de 2018

Profundidade, segundo eu mesma

Lembrei de uma certa vez em que eu estava na sala de espera de um pronto socorro e uma senhora se aproximou de mim. Ela contou tudo sobre o emprego, o genro idiota, o neto com problemas respiratórios, o bairro que uma filha mora, a deficiência do marido. Contou quanto que gastou na casa, como foi o último acordo, o motivo de ter ido de Uber, dentre outras trocentas coisas que eu não lembro.

Fiquei me perguntando sobre as vezes que eu cheguei vomitando as coisas nas outras pessoas e em quantas vezes as pessoas chegaram vomitando coisas em mim. A segunda opção aconteceu muito mais do que a primeira, e isso não é uma reclamação, mas é um ponto que me fez questionar o motivo disso acontecer, já que eu não sou a rainha da boa comunicação.

Me lembrei das vezes que pedi ajuda e não tive resposta. De quando eu ligava e a única resposta era um toque infinito do outro lado da linha ou aquela famosa mensagem ignorada por sei lá quantos dias, já que, no final, eu sempre apago as conversas. Lembrei que cada vez que eu me tornava segunda opção - terceira, quarta...-, eu me culpava e perdia uma porcentagem de mim mesma na próxima relação. Eu mandava mensagem de bom dia? Bom, esse pode ser o erro, então é melhor não mandar mais. Eu mostrava minhas músicas? Acho que talvez não seja uma boa ideia. Eu assumia quando as coisas não estavam lá muito boas? Pelo jeito é melhor eu sempre fingir que está tudo bem.

A cada sensação de afinidade, eu era cada vez menos eu mesma. E, cara, a gente vai se acostumando a ser cada vez menos daquilo que a gente realmente é. A espontaneidade vai sumindo - imagina só mandar mensagem porque eu simplesmente estou com vontade?! - e estamos sempre pesando, pensando, com medo. 

Em números, eu não sei como anda - próximo dos 70%, talvez -, mas eu sinto que sou tão mais do que eu tenho coragem, tão mais do que eu sinto que posso, tão mais do que isso. Em muitos sentidos. 

Essa coisa de não ser raso só funciona no papel. Nas rimas, nas músicas, nos filmes, nos livros românticos. Todo mundo diz que ia adorar uma relação profunda, mas no primeiro sinal de "me conta", as pessoas correm. No primeiro sinal de reciprocidade, as barreiras sobem e voltamos ao nosso buraco emocional. 

Eu queria muito poder voltar a ser a mulher que eu vejo na frente do espelho, mas algumas vitórias pequenas parecem sensacionais, pelo menos para agora. Poder dizer as coisas que eu quero é quase mágico, e eu não me lembrava dessa sensação.

Não me lembrava dessa ansiedade boa, desses planos bobos que deixam nossos dias mais leves, sabe. Não me lembrava de como era ir com calma de uma forma positiva.


Não sabia mais como era esperar uma resposta e ela chegar.


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