quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

O cansaço do quase

As pessoas super valorizam essa coisa do quase de uma forma que eu acho tudo bem doido. Por exemplo, é quase memorável você dizer que quase ligou para alguém várias vezes. Que você pegou o telefone, abriu a agenda e ficou lá encarando o nome do fulano. Quando alguém diz que fez isso várias vezes no mesmo dia, então, nossa. Que magnífico essa sua quase vontade de quase querer fazer parte da vida de alguém que você quase se importa.

Me poupe, sabe. Dos medos, das teorias mirabolantes, do quase. Do "tive vontade mas não fiz", do "estava pensando nisso mas não fiz", do "não queria incomodar". O quase incomoda mais do que um telefone tocando fora de hora ou uma mensagem sem conteúdo, só porque queria. Por saudade, por solidão, por vontade.

É insano o quanto sobra quase e falta vontade e o quanto é cada vez mais vendido a ideia de que se importar é legal, mas não tanto. Não a ponto de ligar. Não a ponto de transparecer, não a ponto de quebrar a barreira do quase.

Todo quase é péssimo. O quase sexo, o quase orgasmo, o quase gol. Quase conseguir um emprego é tão legal quanto quase ganhar uma viagem em um sorteio no Instagram. Aquela coisa poética de temos todo o tempo do mundo é bem balela, não sei se todo mundo já percebeu, mas estamos sempre morrendo. Todo dia, no fim do dia, se torna um dia a menos, independente do seu foco, independente das coisas que você busca, das pessoas que você finge se importar.

Isso serve para mim também. Que quase liga, quase faz, quase vive. Que quase quer incomodar, que quase sai da linha, que quase tenta. 

Que vaga essa ideia de continuar se agarrando a coisas que não me levam a nada de novo. 

Meu quase cansa. Seu quase cansa. E ninguém nunca vai à lugar algum.


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