domingo, 14 de julho de 2019

Carta de um dia ruim

O tapete está aberto no quarto enquanto as pernas se cruzam em câmera lenta. Na ideia de observar o pensamento, sempre sinto aquela mulher maravilhosa e cheia de si sentando na minha frente. Essa mulher, deixaremos claro, não sou eu. Não por enquanto.

Mãos apoiadas nos joelhos, respiração à caminho da calma e as dores no corpo começando a sinalizar o sedentarismo que tem se apossado de mim nos últimos meses. Quem eu estou tentando enganar, né. 

Nos últimos anos.

A mulher de vermelho me trás angústia, joga na minha cara todas as pessoas que foram embora e faz eu sentir o quanto eu não me sinto suficiente sobre nada, nem sobre mim mesma. Algumas notícias boas durante a semana não significam absolutamente coisa nenhum quando se trata de equilíbrio e busca de saúde mental. Até porque ambas eu não tenho, e nós duas - ela e eu - sabemos disso.

Vejo todos os pensamentos jogados dentro da minha cabeça enquanto ela sorri na minha frente. 

Lembro na primeira vez que eu caracterizei minha ansiedade como uma mulher maravilhosa com um vestido vermelho e o quanto eu senti ela rindo de mim enquanto eu fazia chá de hortelã antes de dormir. Um riso arrogante de quem sabia que eu ia acabar voltando para o mesmo buraco de antes, de quem sabia que eu ia perder pelo menos uma pessoa da minha base emocional. Riso de quem sabe que tem razão.

Riso que eu dou quando eu consigo me manter fora dessa culpa que fecha a minha garganta todas as vezes que eu sento para colocar os pontos nos is.

Meu coração acelera, minha pressão cai, meu corpo treme. Meu olho enche de lágrimas enquanto eu tento me manter presente, mas têm dias que não dá. E têm dias que não dá mesmo. Nesse tempo, ela me observa. 

Eu continuo sentada, de pernas cruzadas, lembrando de quem foi embora e do quão substituível eu me sinto. Porque talvez eu seja. Talvez seja nisso que ela quer que eu acredite, mas todas as vezes que eu me lembro disso, essa é a palavra que mais se encaixa nas minhas sensações.

Porque hoje eu perdi.

Amanhã eu tento de novo.


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